28.7.11

No good.



Quase uma semana depois, escrevo essas linhas com medo de transformar um triste acontecimento em clichê. Minha última intenção é analisar de forma medíocre e superficial as abissais razões que levam uma pessoa a entregar sua vida ao vício. No mais, nem mesmo é este o tema central do texto, esta não é minha maior preocupação.

Em 5 de abril de 1994, quando eu tinha 8 anos, Kurt Cobain foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na sua casa em Seattle. Confesso que não me lembro de toda comoção gerada na época, em parte devido a minha pouca idade e em parte pelo meu ainda não desenvolvido gosto musical



Anos mais tarde a internet conseguiu me transportar de volta aos idos do grunge e recriar na minha imaginação aquele cenário. Ouvindo as músicas e conhecendo sua história eu fui capaz de entender o sentimento de perda que Kurt Cobain deixou quando morreu. E isso porque, naquele momento, não morria apenas um homem; morria também um mito.

Dezessete anos depois a história se repete. E desta vez eu consigo entender a intensidade da coisa. Assim como Kurt Cobain, Amy Winehouse também deixou para trás mais que uma trajetória de escândalos e músicas memoráveis. Ela deixou pra trás um mundo orfão daquela verdadeira genialidade que talvez só os loucos tenham.

Veja bem, acho perfeitamente plausível que alguém não gostasse da música de Amy. Acho mais plausível ainda que não aprovassem seu comportamento auto-destrutivo. No entanto me parece impossível negar seu talento, e não só aquele que ficava claro na voz forte e desafiadora que dizia não ir à rehab, mas o talento do atrevimento.

Amy
Winehouse atreveu-se a ser Amy Winehouse. Eu sei que parece confuso, ainda mais quando a maioria de nós vive sob os freios morais com os quais a sociedade nos adestra. Mas quero dizer que, por conta da venda que os "bons costumes" nos coloca nos olhos, muitos deixaram de ver o que havia por trás daquela imagem incontrolável: uma mulher atormentada por fantasmas pessoais e que, com eles, fez arte. Amy não cantava amenidades simplesmente por que nada era ameno para ela. Tudo era intenso: suas dores, seus amores, seus vícios, sua voz...

E na verdade acho que é isso que me deixa triste. Mais que a perda da artista, da cantora e das músicas - até porque, apesar de gostar bastante, nunca fui uma fã devota da moça - vou sentir falta da sua intensidade. Eu gostava de saber que havia gente no mundo capaz de bancar a própria loucura e os próprios defeitos. Capaz de tentar lutar contra eles e ser derrotada. Capaz de usar um topete estratosférico, cair no palco, esquecer as letras e seguir em frente.

Talvez eu esteja escrevendo isso tudo porque, mais uma vez, percebi que vão-se os loucos e ficam os medíocres. E isso dá um certo aperto. Não queria viver num mundo de pessoas "mais ou menos", eu queria encontrar gente mostrando sua alma nos olhos, na voz, nos gestos e nos erros....

Mas, enfim. Ela cantava que suas lágrimas secavam sozinhas e infelizmente acho que agora não nos resta muito a não ser esperar que o mesmo aconteça conosco.





Valeu por tudo, Amy.
Até qualquer hora.

2 comentários:

  1. Muito Bom......
    Mais vc "esqueceu" de dizer como Amy, Kurt, Morrison, Hendrix e tantos outros GENIOS que morreram com seus 27 anos por mera conhecidência...
    Além de mitos... eram muito bons no que faziam... ou seja tão cedo, ou nunca mais Haverá uma Amy, um Kurt e ETC.
    Espero que nosso gênero não fique só de "mediocres" é sempre bom um maluco para incendiar os ânimos.... Tenho dito!!!
    Bjinho vou continuar acompanhando os Posts... principalmente se forem como esses!!!

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  2. Vera Lucia Giavarotti29 de julho de 2011 às 22:29

    Minha garota,amo ler tudo que vc escreve e confesso ter um pontinho de orgulho pois fui eu quem plantou essa sementinha, que hoje é essa ávore frondosa, que me acolhe e refresca.
    Seu respeito e compreenção para com o proximo é que faz de vc essa pessoa iluminada e especial.

    Parabéns pelo seu post sobre o triste final da menina Amy Winehouse.

    beijossss

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