29.7.11

Entre dois.




Tão altos os brados, tão dura acusação.
Eram como trovões num céu escuro, iluminando por segundos o breu da imensidão.
E não se viam mesmo assim.
Talvez fosse a distância entre ambos, centímetros multiplicados por ríspidas ofensas.
Não se via a outra margem, estavam tão longe....

Então, a porta que se fechou nunca mais abriu.
E separou aquilo que reinava onipotente entre ele e ela.
Era fria e imóvel como a estátua de pedra que saúda a coragem dos mortos.
E era triste como eles.

Agora queria de volta, mesmo querendo longe.
Se culpava pelo que havia se tornado.
Clamava por sentir juntos, aquilo que hoje sentiam separados.

Daí vem o silêncio.
A calmaria perturbadora que devora a sanidade.
Preferia o grito e a desordem, toda manifestação de dor,
ao torpor moribundo de quem vê partir o grande amor.

Uma única lágrima.
De repente tudo parecia tão bom......






( Poesia feita lá pelos idos de 2007 após um óbvio pé na bunda. Recordar é viver...)




28.7.11

No good.



Quase uma semana depois, escrevo essas linhas com medo de transformar um triste acontecimento em clichê. Minha última intenção é analisar de forma medíocre e superficial as abissais razões que levam uma pessoa a entregar sua vida ao vício. No mais, nem mesmo é este o tema central do texto, esta não é minha maior preocupação.

Em 5 de abril de 1994, quando eu tinha 8 anos, Kurt Cobain foi encontrado morto com um tiro na cabeça, na sua casa em Seattle. Confesso que não me lembro de toda comoção gerada na época, em parte devido a minha pouca idade e em parte pelo meu ainda não desenvolvido gosto musical



Anos mais tarde a internet conseguiu me transportar de volta aos idos do grunge e recriar na minha imaginação aquele cenário. Ouvindo as músicas e conhecendo sua história eu fui capaz de entender o sentimento de perda que Kurt Cobain deixou quando morreu. E isso porque, naquele momento, não morria apenas um homem; morria também um mito.

Dezessete anos depois a história se repete. E desta vez eu consigo entender a intensidade da coisa. Assim como Kurt Cobain, Amy Winehouse também deixou para trás mais que uma trajetória de escândalos e músicas memoráveis. Ela deixou pra trás um mundo orfão daquela verdadeira genialidade que talvez só os loucos tenham.

Veja bem, acho perfeitamente plausível que alguém não gostasse da música de Amy. Acho mais plausível ainda que não aprovassem seu comportamento auto-destrutivo. No entanto me parece impossível negar seu talento, e não só aquele que ficava claro na voz forte e desafiadora que dizia não ir à rehab, mas o talento do atrevimento.

Amy
Winehouse atreveu-se a ser Amy Winehouse. Eu sei que parece confuso, ainda mais quando a maioria de nós vive sob os freios morais com os quais a sociedade nos adestra. Mas quero dizer que, por conta da venda que os "bons costumes" nos coloca nos olhos, muitos deixaram de ver o que havia por trás daquela imagem incontrolável: uma mulher atormentada por fantasmas pessoais e que, com eles, fez arte. Amy não cantava amenidades simplesmente por que nada era ameno para ela. Tudo era intenso: suas dores, seus amores, seus vícios, sua voz...

E na verdade acho que é isso que me deixa triste. Mais que a perda da artista, da cantora e das músicas - até porque, apesar de gostar bastante, nunca fui uma fã devota da moça - vou sentir falta da sua intensidade. Eu gostava de saber que havia gente no mundo capaz de bancar a própria loucura e os próprios defeitos. Capaz de tentar lutar contra eles e ser derrotada. Capaz de usar um topete estratosférico, cair no palco, esquecer as letras e seguir em frente.

Talvez eu esteja escrevendo isso tudo porque, mais uma vez, percebi que vão-se os loucos e ficam os medíocres. E isso dá um certo aperto. Não queria viver num mundo de pessoas "mais ou menos", eu queria encontrar gente mostrando sua alma nos olhos, na voz, nos gestos e nos erros....

Mas, enfim. Ela cantava que suas lágrimas secavam sozinhas e infelizmente acho que agora não nos resta muito a não ser esperar que o mesmo aconteça conosco.





Valeu por tudo, Amy.
Até qualquer hora.

26.7.11

....





Não sei exatamente qual foi o impulso que me fez criar um blog outra vez. Já tive uns três ao longo da vida e, pensando em cada um, pude ver que todos refletiam de certa forma a fase pela qual eu estava passando quando os fiz.

Meu primeiro se chamava "Tô ki tô" e falava sobre coisas essencialmente infanto/juvenis. O dia a dia no colégio, as amizades novas, o ratinho de estimação que eu ganhei em algum aniversário, tudo num layout rosa, cheio de rabiscos e uma pseudo rebeldia cute-cute. Não havia nada ali com muita carga emocional, apenas amenidades recheadas com o bom humor inocente e otimista de uma garotinha de 11 anos - garotinha que, como o nome sugeria, realmente "tava que tava" descobrindo o mundo ao seu redor. A despeito de toda empolgação inicial, apenas alguns meses depois eu parei de escrever sem nenhuma razão aparente. Simplesmente devo ter direcionado minha atenção pra qualquer outra coisa nova, como os jovens costumam fazer....

O segundo nem era bem um blog, era um Multiply, espécie de site pessoal que reunia albúm de fotos, arquivos de músicas e textos num único lugar. Se chamava "Wines´world" porque nessa época eu já usava o pseudônimo com o qual me identifico até hoje na internet. Aliás, o porque desse tal nick é matéria pra outro post - não me deixem esquecer. Enfim, esse segundo era bem mais intimista, pessoal, emocional. Eu continuava tentando dar um toque de humor aos posts, mas o conteúdo era quase sempre sentimental. Eu falava bastante de amores e decepções afinal estava experimentando essas sensações; tinha terminado um namoro, jurado não começar outro (e obviamente começado outro logo em seguida) além de estar com algumas amizades estremecidas, o que me fazia filosofar bastante a respeito de lealdade, companheirismo e afins. Mantive esse blog por bastante tempo, embora minhas atualizações não fossem tão frequentes quanto poderiam. Eventualmente fiquei tanto tempo sem postar que acabei esquecendo meu login e senha. Era a prova cabal de que eu estava envelhecendo.....

O terceiro, chamado "Love it or Live it" em clara menção à Courtney Love - cuja falta de juízo sempre me fascinou - ficou na ativa até dia 23.12.09 e não me traz tão boas recordações. Não pelo blog em si, que sempre foi um amigo fiel nas horas de desabafo ou conjecturas inúteis, e sim pelo momento no qual foi feito. Durante o tempo em que esteve no ar algumas coisas (e pessoas) bastante negativas aconteceram e por causa delas eu acabei perdendo a vontade e o prazer de compartilhar meus pensamentos com os outros. Dá pra ver nos textos que eu acabei retomando as amenidades sobre as quais discursava no "Tô ki tô", embora agora elas apresentassem um conteúdo mais elaborado, afinal eu tinha 23 anos. Meu último escrito foi uma despedida inconsciente. Não sabia que aquela seria minha última postagem, mas acabei aproveitando a data próxima ao fim do ano para dizer coisas com sabor de adeus.

Agora aqui estamos.

Dia 27.07.11 começa minha nova empreitada. Como deu pra ver lá em cima, o título é quase um aviso. Porque se antigamente eu era superficial, confusa e sentimental, hoje nem tanto. Hoje eu sou sincera. E isso significa muito mais do que a palavra diz; ser sincera não é somente dizer verdades. É estar madura o suficiente pra lidar com essas verdades. Portanto, neste novo blog que não tem nenhum direcionamento temático definido - qualquer assunto pode ser abordado a qualquer momento - a única regra é ser direta. Analisar cruamente os acontecimentos, sentimentos e conclusões. Não vou me esconder por trás da boa educação, nem medir palavras pra expressar seja lá o que eu estiver pensando e espero que todos vocês, leitores, dividam comigo a doce liberdade do politicamente incorreto.

Foi dada a largada, pessoal. Vamos ver quanto tempo esta fase vai durar.... =)